Definir uma especialização em Engenharia e Manutenção Hospitalar é sinónimo de conhecimento em especialidades técnicas variadas que (não) começam em aquecimento, ventilação e ar condicionado, segurança contra incêndios em edifícios, fluidos medicinais, biomédica, mas passam por gestão e facilmente ultrapassam a aprendizagem e formação base.

Um dos desafios para o futuro, será definir onde termina a potencialidade da Engenharia de Manutenção Hospitalar na sua componente de engenharia, pré-requisitos para a sua concretização e respetiva governança na gestão dos atos de engenharia.

O crescendo legislativo e normas pelas quais nos regemos e conduzimos, obrigam a atualizações, projetos e mudanças constantes na busca da segurança das instalações para as nossas equipas, colaboradores e utentes que nos visitam. Para tal, a concretização da estratégia de Manutenção deve estar bem definida nos seus níveis de hierarquia e, sua implementação assegurada através do seu braço operacional.

Assente em especialidades técnicas altamente diferenciadas, com uma criticidade operacional elevada, uma componente de gestão de tempo e stress não menos importantes, a existência de equipas de Manutenção especializadas (e devidamente certificadas) com o auxílio de contratos baseados em parcerias com fabricantes e/ou fornecedores, garante a atualização e continuidade técnica necessárias para conduzir, identificar soluções e projetos inovadores, assegurar o uptime necessário e beneficiação aos equipamentos e sistemas para a continuidade da atividade assistencial e atualização do respetivo software de gestão e seu  inventário.

O “inventário” é a base de trabalho e responsabilidade core das equipas operacionais. Alimentar esta base de dados com todas as informações necessárias à gestão do ativo até à sua depreciação final ou término de vida útil, é um desafio diário e com implicações nefastas se não entendido como prioritário. Como um exemplo, a integração de um qualquer equipamento ou sistema sem dar relevância à especialidade técnica.

À partida e após a aprovação de um programa funcional e sua viabilidade, a aquisição de um ativo inventariável e passível de testes, ensaios ou tarefas de manutenção, deverá ser alvo de análise e asseguradas as condições técnicas necessárias ao seu propósito bem como, assegurar o melhor TCO (Total Cost of Ownership), SLA (Service Level Agreement), planos de manutenção, peças, acompanhamento/atualização tecnológica e respetivos, manuais e/ou certificados.

Uma correta avaliação de risco e criação de planos de redundância ou mitigar erros são fundamentais para o sucesso da sua implementação.

Por outro lado, no âmbito do cumprimento legal e segurança do colaborador/utente é fundamental a definição exaustiva de que especialidade e ou acto médico vai servir de forma a adaptar a infraestrutura e assegurar a tecnologia necessária para a sua correta integração no menor intervalo de tempo possível.

A concretização destes passos é assente na relação matricial entre os vários stakeholders de uma unidade hospitalar. Torna-se, então, claro, que a cultura e o trabalho em equipa por parte de todos os elementos distribuídos pelas várias equipas multidisciplinares são fundamentais e condição “sine qua non” para a correta instalação e, execução dos vários “planos de manutenção ou inspeções e ensaios”, bem como, das tarefas conhecidas no âmbito da Manutenção Hospitalar.

A gestão diária de um compartimento ou sistema e garantir o “downtime” mínimo e indispensável, que permitam otimizar consumos e maximizar funcionamento, é um trabalho de todos, e todos devemos ser responsáveis pela sua concretização.

Não menos importante, e de certa forma, um forte complemento no crescimento enquanto equipa, a existência de um sistema de gestão documental onde se possa verter a criação e revisão de planos de gestão e atuação (nas várias especialidades e vertentes), têm um papel cada vez maior na transversalização da informação, processos e procedimentos entre os vários stakeholders e unidades hospitalares (no caso de operar em rede).

A Engenharia e Manutenção Hospitalar enquanto equipa de gestão e operacional tem um papel preponderante na assessoria técnica e componente estratégica a longo prazo. Este papel contribui para a adaptação, ou expansão do edificado, aquisição/substituição de equipamentos, sistemas, e, na vertente da promoção da redução na pegada carbónica, racionalização/eficiência energética, mantendo a continuidade do serviço e incorporando novas tecnologias, garantindo a melhoria das condições de trabalho e conforto às equipas assistenciais e utentes.

Acompanhar a modernização e evolução em Manutenção é de uma importância vital e intrínseca à realidade hospitalar. A continuidade ou melhoria no serviço prestado, só será possível através de uma revisão cíclica do modelo implementado (baseada em informação e medição de variáveis como, horas/recursos, quantificação de consumos energéticos através de contadores, tempo/custo de avarias através do software de gestão, etc…), plano de redundância ou renovação de equipamentos/sistemas e não menos importante, a formação e sensibilização das equipas operacionais e os vários utilizadores do “inventário”. A importância e benefício de uma correta manutenção é reforçada quando culturalmente for partilhada por todos.

Aliando a tecnologia de informação, que se encontra à disposição da Engenharia, com a formação e desenvolvimento das equipas, o futuro está assegurado (com enorme potencial para inovação), porém, urge a correta e justa implementação da especialização da área.

André Nunes Monteiro
Coordenação de Engenharia e Manutenção
CUF – Cluster’s Sul